sábado, 31 de dezembro de 2011

O tempo foge por todas entranhas da vida... acelera o passar do tempo, e de 360 graus, surgem mudanças. Do dia 365 para o primeiro do próximo ano, não há mudanças. Há renovação de votos. De desejos que porventura, nunca serão cumpridos.
De qualquer forma, senhor 2012, seja muito bem vindo, e não seja demasiado drástico com o mundo. Deixe que todas as coisas boas aconteçam, e doseie muito bem as menos agradáveis!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Quero escrever. E a vontade raptou-me das paragens onde devia estar. E corro pela mente a fugir da vontade - ladrão. E a mente, afinal, é ciclica. E venho encontrar a vontade de escrever. E faço-lhe a vontade. Mas só um bocadinho...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Alguém um dia irá repor as pedras em falta?
Escreve a saudade com a tua mão
E faz-me ver com os olhos o teu coração
Pois chegou a hora de poder sorrir
É que o vento trouxe o cheiro sem mentir
É doce amargo cheio de cor
Sem peso ou marca para onde eu for
Se mexer no lento cheiro preso aqui
Tenho o cheiro solto vivo mesmo ao pé de mim
Se dormir no louco cheiro e acordar
O mesmo cheiro em todo o corpo vai ficar
É doce amargo cheio de cor
Sem peso ou marca para onde eu for
Serei o que temer

Penso que se trata da letra de uma musica de Lucia Moniz
Parei por perder
O lento respirar
Este novo cheiro um beijo me deu
É filho de um cheiro que envelheceu
Tinha todo o nome de um cheiro maior
Que chega com os passos que ouço em redor

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Coabita em mim - tal como em Fernado Pessoa, e em quem se cruza comigo no passeio - várias pessoas que lutam entre si várias vezes ao dia, por várias causas diferentes, por várias situações distintas. Balança o sopro do vento artroz na janela, treme o vidro. Grito? Adormeço? Vou para a rua?
Canta o rádio no carro que passa. Danço? Ignoro? Comento?
E a pessoa que se cruza no passeio, alheia aos meus insensatos pensamentos, passa por mim. Viro a esquina, desligo a mente,  e caminho, novamente sozinha.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pela segunda vez, dou um saltinho ao mundo dos concursos.. pela segunda vez é o promovido pelo Santandertotta.
Passe por lá.. espreite, veja se gosta.. e vote!

 Memórias vazias

Fica um pouquinho do texto:

"Cliquei na pasta vazia, outrora cheia de sonhos e esperanças em futuros paralelos ao presente de hoje. Abriu-se uma das primeiras de muitas, que se revelou a única recordação física daquilo que foram labaredas de incessante conquista e descoberta."

(excerto)

domingo, 16 de outubro de 2011

Parte I

Quanto tempo mais aguenta o Ser Humano sem a condescendência necessária á sua liberdade física - ir para onde quer -  e psíquica - agir como desejar  -.
Quanto tempo mais aguentará o Ser Humano a hipocrisia das ações e das emoções. Quanto tempo - pergunto de novo - demorará o Ser Humano a ser egoista quando necessário, e consigo mesmo, em vez de o ser, mesquinhamente, com os outros.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"Os olhos da nossa memória, vêem melhor do que os nossos"

Entre uma e outra estação do Metro de Lisboa
"Debaixo do chão", também se conhece a cidade

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Crescemos em partes separadas do mesmo Mundo.. Cantámos o mesmo hino, soletrámos as mesmas palavras dissemos o mesmo alfabeto. Olhámos as mesmas estrelas solenes e graciosas. E sorrimos ao olhar para elas. Houve nós de garganta, gargalos de garrafa, gargalhadas. Gostámos das mesmas coisas e chutámos a bola, empurrando o céu, para o alcance dos sonhos ser maior. Para aumentar o limite de chegar ao fim de algo, ao princípio de outra coisa.
E terminamos de costas voltadas. Um, aos chutos para o céu.. outro, a empurrar o Mundo. Quem é quem?

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Toda a gente fala, resmunga, diz que vai. Mas quando entra e faz, torna-se mais difícil. Há um Deus Negro na Terra, personificado em muitas pessoas que te ordenam. Há um objectivo pessoal em cada um dos seus servos, mas há um único fim naquele Deus personficado. E três dias bastaram para os servos absorverem aquele espírito que torna o Deus um só. E uma salva de palmas, e um levantar de capas deixa a emoção que é estudar em Coimbra, como de tanta gente fala, mas como nem todos já sentiram.

praxis,
depois do concurso de cursos 

sábado, 24 de setembro de 2011


Coabita duas meias realidades, duas meias verdades, num país sem cor nem luz...dos anos 50. Dum século perdido, deixa a despido a pele histórica, relatadora de factos que acontecem em cada instante. É constante o sonar da história, em meias verdades, acompanhada da sua restante mentira, de boca em boca.  Somos metades que sempre se complementarão. Como outrora foi falado, venha a cor e deixe de haver mentira, que a história perderia o encanto.
_________Deixem sempre espaço para sonhar -

sábado, 17 de setembro de 2011

Pudesse eu não ter laços
nem limites
Ó vida de mil faces
transbordantes
Para poder responder
aos teus convites
Suspensos na surpresa
dos instantes!

Sophia de Mello Breyner

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hoje - um hoje efémero que perdura - quero atrair coisas boas e deixar de parte as bagatelas frases dos iludidos seres iguais a mim.
Hoje, tal como no passado, entendo e sei que nada aconteceu por acaso, nem por inveja, nem por mesquinhes. Mas também sei que não interessa porque aconteceu - por isso mesmo, porque já aconteceu -.
Hoje, porque nada mudava no passado, caminho de sorriso nos lábios e cabeça erguida - não foi culpa minha nem de ninguém -.
E assim avanço, sem queda nem balanço, firme em cada passo, sem querer olhadela ou amasso, sorriso ou descompasso.
Assim, não sobrevivo - antes vivo - livre e sem medo, com um nada - que é a melhor coisa do Mundo - e sem um tudo incompleto - sem tropeção ou empurrão vindo do nada -  que forçada, tento culpar.

Depois de Auschwitz
Vila Velha de Rodão
. As portas que  não se fecham nem abrem, as portas que acolhem e despedem de quem passa. Portas da Terra, portas da Água, portas do Ar. Janelas que não se abrem, portas que sempre deixam entrar.

domingo, 4 de setembro de 2011

"Outra enormidade actual é a ideia de que dois seres apaixonados podem ser "amigos". Isto é como querer que um vulcão sirva também para aquecer um tacho de sopa. Ofende tanto a amizade – ou o fogão – como o amor – e o vulcão. Ser amigo é querer o bem de alguém. Amar é querer alguém, e acabou. Se for a bem, melhor. Se for a mal é porque teve de ser. Um vulcão só irrompe de quando em quando, e ás vezes uma única vez. Como o amor. E o fogão dura quase toda a vida, como a amizade. Não haja confusão."


"A causa das coisas", Miguel Esteves Cardoso

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Com um grande Obrigado no fim

As calçadas falam breves e fugazes ao som dos meus passos apressados que fogem ao medo de ser assolados por outros passos. Caminho de cabeça longe, entre uma Primavera chegada e um Outono acabado. Há frio, há sol, e falta-me um casaco que me aconchegue os braços. Que me aconchegue a alma desta angústia fulminante que nasceu há muitos anos. Ou nem tantos. Mas o tempo é relativo e relativamente a mim, passou muito tempo, tempo demais, e quero perguntas a quem quero dar respostas, e desejo as respostas às minhas perguntas.
E continuo a andar, e aumenta o cantar da calçada e eu aumento o meu passo, já de si apertado. Mas rápido. É o caminhar de anos com a pressão desses mesmos anos em cima. Dobro a esquina e entro noutra rua que não conheço. Tanta coisa que desconheço e que queria conhecer. Olho o telemóvel que está em modo silêncio, tal como o Mundo em que vivo. Olho para trás Não vem ninguém. Preciso de alguém.
O barulho do comboio ao longe desperta-me. Onde estou? O que sou? Fecho os olhos e sinto o vento a bater na cara. E nos braços. Sinto tijolos debaixo da mão apoiada na parede e imagino-lhes a cor – um laranja torrado. Inebriada pela sensação de Liberdade, assusto-me ao perceber que o vento me levou o véu. E no Médio Oriente não se anda sem véu – muito menos anda sem véu uma fugitiva. Saltam-me lágrimas, e cai chuva – não, afinal sou só eu a chorar, com o véu no pescoço. Os passos continuam solidários e isso faz com que não precise de olhar para trás, isso faz-me lembrar o que deixei. Há o barulho das crianças, o tom autoritário do Iraniano meu marido e dono. Penso na revista deixada pela Europeia que trabalha na Grande empresa de Teerão.
Estava em Inglês. Agradeci a Alá o momento em que a minha mãe levou a sova do meu pai. Uma enorme consequência da exigência que ela fazia... Tirar um curso de Inglês. E o curso que tirou muita saúde à minha mãe, mas que me dá agora muita saúde. 
Ainda não sei como sair do País. Há organizações, sei que há. A revista confirmou o eu pensava poder ser possível. Mas onde? Não se pode confiar em ninguém. Carrego no meu corpo anos de submissão traduzidos em marcas que me identificam no corpo e na alma. Há um largo. Um círculo que me assusta. Não quero voltar ao mesmo...sigo pela transversal, fujo da praceta cúmplice do meu estado: acusações, culpas e desculpas... Acusações. 
Sigo solitária com os meus paços e com o vento. Tão só como quando tinha a casa cheia. 
E agora? Agora vou caminhar. Até me encontrar. Me encontrarem ou ser encontrada.
Poderei ir e voltar? Não... Sarar as mazelas para as tornar depois mais fortes é carregar água com sede e não a beber. 
Oiço passos. Serão ajuda ou destruição?


 128º lugar (de entre 819), Concurso Conte Connosco, Julho 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

O sol levou a cor que lhe falta. Agora, daqui, ninguém lhe tira mais nada-

Não

Sim, houve alturas que não sabia o que escrevia. Que não sabia que não ouvia o que queria, o que sentia, o que pensava que merecia..
Sim, penso e o meu corpo arrepia, e tempo pára mas não regride nem progride. Sim, é sincero, mas nunca o foi.
É estar num estádio, ouvir aplausos, gritos de golo, suspiros de grandes lances, e não ver o que se passa, viver perto do espetaculo e não o assistir. Viver a meia verdade. Numa meia mentira. De uma meia realidade.
Sim, ouve dias de que não me lembro, e coisas de que não me esqueço.
Sim, existem telas por pintar, livros por escrever.
Sim, há conversas incompletas,

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

É sincera a canção escrevinhada vezes sem conta. O medo, que se une a algo mais importante, domina as acções. E alternadamente, ambas as coisas reinam no mundo de cartão que se constrói sobre alicerces profundos e frágeis, que só com o tempo se fortalecem. Damos tempo? Fugimos do presente? Lamuriamos no futuro o desejo de quem já não está?
Salta o tempo entre cada dia..Muda o tempo e a vontade metamorfiza-se. Só por fora!

sábado, 20 de agosto de 2011

Pesam os dedos canções pesarosas, que lembram sinuosos caminhos trespassados. Páre o tempo, cante sozinho o rádio velho, adormeça a cidade cansada. Caem os dedos pesados, erguendo-se em compassos cada vez mais escassos. Sobra a noite, de tempo parado.
As pálpebras cerram-se. Os dedos não levantam. O tempo não avança. Onde estás, esperança?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ás vezes, temos uma mão e temos um chão. Ás vezes, empurramos a mão, e ficamos sem chão.

domingo, 7 de agosto de 2011

Gira citadina esta tão pouco cidade. Avança abraçada ao passado, com um tímido pé no presente a sua estrutura e a sua gente. Como reboliço tem até as 7 horas da tarde o trabalho, que alimenta a azafama própria de tantas como esta. Ás vezes, uma ou outra coisa canta... poucas mais que as de dantes encantam..
E gira citadina esta tão pouco cidade. Entre o calor do Alentejo e o frio das Beiras. Aqui tão perto!

sábado, 30 de julho de 2011

Canta a televisão, fala a linguagem mecanizada, mistura de gestos, palavras e sons, constrói-se muralhas e saltam-se barreiras. Ignoram-se os obstáculos...
Pontos que valem por horas, que se convertem em algo que não é o que se espera, mas que tem valor. Canta a televisão. Vou-me embora.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rascunhos

Há folhas brancas rascunhadas de lápis, de canetas pretas e azuis. De canetas que falham que esborratam e que já estão perdidas, emprestadas e camufladas. Que escreveram coisas que já não me lembro, que não recordo e voltimeia reaparecem na memória...
Coisas. Muitas vezes nunca escritas, que aparecem na folha, outrora branca.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Para quem gosta do que escrevo:

Concorri hoje a um concurso do Santander Totta "Conte connosco", escrevendo um texto intitulado "Caminhos de Teerão", uma amostra do que uma mulher Iraniana passa no seu intimo ao fugir da família.

Pode ler e votar aqui, uma vez por dia, através da conta do Facebook ou registando-se no site, e habilitar-se ao sorteio de vários prémios por semana.



Desde já muito obrigada!

Élia

quarta-feira, 6 de julho de 2011

E quando tu ias a escapar, eu olhei para traz, nunca revertendo o caminho, na esperança de ver por entre paredes qual o teu destino. Quis voltar atraz no tempo alguns segundos, e mudar algo, de maneira a que o instante durasse para sempre. Perdi as forças e quis sentar-me na escada. Mas segui em frente porque vacilar seria nunca mais me erguer. Incendiou-se uma intrigante miscelânea à qual não conseguia responder, interpretar ou obedecer. Fez-se um mapa de palavras futuristas, qual eu nunca fui capaz de interpretar.

domingo, 3 de julho de 2011

As duvidas que te assolam a alma, que jorram pelos teus dedos e que atravessam universos virtuais de tempo, espaço realidade, transformam-se em cinzas quando intelectualizadas. O sentimento fingido - como dizia o poeta - não mente e clarifica a ânsia que tenho de ti.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

As conclusões óbvias de um episódio mal esclarecido são isso mesmo, óbvias. Que de tão óbvias se tornam imprevisiveis... E depois, a memória apaga o que não queremos. O corpo adapta-se a uma realidade fingida, adaptada ao real sonho que se vive contraposto ao inconsciente facto da verdade. Pode não ser um dia. Pode não ser nunca, e também pode ser todos os dias, tornando assim banal a sensação.
E pode ser que não. Mas é capaz de existir um momento em que a necessidade de respostas surja num patamar que não exija somente o esclarecimento...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vi, gostei, e decidi partilhar:

"E assim depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar, decidi não esperar pelas oportunidades, mas sim, eu mesmo buscá-las. Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução. Decidi ver cada deserto como uma oportunidade de encontrar um oásis. Decidi ver cada noite como um mistério a resolver. Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz. Naquele dia descobri que o meu único rival não era mais do que as minhas próprias limitações, e que enfrentá-las, era a única e a melhor forma de superá-las. Naquele dia descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido. Deixei de me importar com quem ganha ou perde. Agora importa-me, simplesmente, saber melhor o que fazer. Aprendi que o difícil não é chegar lá acima, mas sim, deixar de subir. Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de "amigo". Descobri que o amor é mais do que um simples estado de enamoramento, é uma filosofia de vida. Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma ténue luz no presente. Aprendi que de nada serve ser luz se não se iluminar o caminho dos demais. Naquele dia, decidi trocar tantas coisas... Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para se tornarem realidade. E, desde aquele dia, já não durmo para descansar. Simplesmente, durmo para sonhar."

Walt Disney

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A vantagem de estudar a sentir o vento é pouca.
Ou talvez não. Não folhas que falam de Alvaro de Campos, desenho rabiscos euforicos de uma forma desmedida: surge o implulso para escever.
As gentes desconhecidas expiram, mas não inspiram mais do que uns ligeiros devaneios. Quem são? De onde vêm?
Um grito alegre e genuino corta a atenção.
Ele conseguiu. Comprou uma mala vermelha para ir para a praia.
Os seus paços, devido aos sapatos grandes, soam a saltos de alegria. E agradeceu a ajuda.
A seguir a intuição diz-me que vai agradecer a mais umas quantas...Com uma alegria tão genuina que vai deixar todos os que antes se riram e voltaram costas cheios de inveja.
É assim a vida sensacionista de quem sente sem pensar devido ao "fatum" egoista de uma  sensacionisticamente sociedade industrializada que todos anseiam modificar.
E hoje, ele mostrou ser feliz. Foi o único. É o unico, desde há muito tempo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Fim do principio

Ouve alturas em que apeteceu correr. Outras, desistir. Houve momentos de inspiração e de resignação. E até ouve quem desistisse!
Calculámos tudo o que havia para calcular, e agora alguém nos vai dar a soma de todas as partes equacionadas ao longo de todo este tempo: horas de estudo, dias de cansaço e resignação. Momentos em que ninguém acreditou, e em que tivemos de acreditar. Sozinhos, uns com os outros.

Mas não, não foi sempre assim. Houve lutas por coisinhas pequenas, que nos fizeram alcançar grandes coisas. E os bancos azuis, a quem confessamos as piadas, os disparates... Rostos que nos momentos mais dificeis estiveram à distância de um telefone, de uma ida à net, com quem partilhamos duvidas, certezas e novidades.
E ouve momentos dignos de descrição, que fazem hoje parte de um "livro" que se foi vivendo.

Daqui a uns anos, recodaremos isto tudo, e memórias darão lugar a saudades. E com o tempo que passou, iremos dar valor a coisas que não demos, e desvalorizar outras...perto ou longe uns dos outros, perto de caras novas, contaremos as nossas historias. Que ainda mal começaram!

O 12º ano de 2011
Liceu

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Criança, por Pessoa

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Real e imaginário

O conta quilómetros parcial marcava 777.7. "Coincidência?" perguntou. Não, já sei que não é, porque já demasiadas vezes se tornou  regular. Formular desculpas e argumentos de tangentes fingidas de círculos trignométricos cujo raio é impossível ser um. Cansa e desgasta ainda mais o órgão que parcialmente destuiste com balas que se de outra altura se tratasse, seriam feitas de papel fino e cortante, escritas com pena de galinha, que ganso não há, e mergulhadas em tinta da china, num Portugal genúino, com o cheiro de dois pólos antagónicos da realidade quotidiana.
E hoje, sem saber qual o raio de distância  - embora fosse claramente superior a um - vestígios da tua presença atravessaram à minha frente. Acelerou, juntamente com o carro, o ainda lesado órgão, que ansiando pela tua presença fez apurar os meus sentidos e descobrir quem era afinal. Mas fugiste, metaforicamente ou não. Tal como todas as vezes. E o circulo voltou a esquecer-se de qual era o seu raio.

sábado, 21 de maio de 2011

Ricardo Araújo Pereira: a Ironia da Notícia

A morte é a morte e acabou-se; o casamento é mais cruel: é como uma doença. Daí a expressão "contrair matrimónio". Estar casado é uma condição que se contrai, como um vírus


É uma regra conhecida por todos os leitores e cinéfilos: as comédias acabam em casamento, as tragédias acabam em morte. O que não tem cessado de surpreender os académicos é a circunstância de as comédias terem, tradicionalmente, o desfecho mais trágico: a morte, muitas vezes (se não todas), acaba com o sofrimento; o casamento dá-lhe início. A morte é a morte e acabou-se; o casamento é mais cruel: é como uma doença. Daí a expressão "contrair matrimónio". Estar casado é uma condição que se contrai, como um vírus. O facto de o Código Penal de alguns países prever a condenação à pena de morte mas não a condenação ao casamento tem intrigado as pessoas casadas de vários tempos e lugares. Creio que o celibato dos padres tem como objetivo fazer com que a instituição do casamento perdure: se os sacerdotes soubessem o que o casamento é, sendo homens de Deus não teriam coragem de infligir o mesmo castigo a outro ser humano.
Uma pessoa não precisa de estar no altar para sofrer com um casamento. Assistir a um casamento consegue ser quase tão penoso como tomar parte nele. Há quem sonhe com cobras, com espaços fechados ou com ladrões. O meu pesadelo recorrente é um casal amigo a perguntar-me: "Queres ver o vídeo do nosso casamento?" Segue-se uma sensação de abismo e acordo aos gritos e a suar.
Ao que parece, contudo, há uma grossíssima fatia da humanidade que aprecia submeter-se à tortura de testemunhar casamentos de pessoas que nem sequer conhece. O que William e Kate fizeram na passada sexta-feira foi dizer ao mundo: "Querem ver o vídeo do nosso casamento?" E o mundo, em lugar de fugir aos gritos e a suar, pôs a televisão na CNN. E na BBC. E na FOX. E na RTP. E na SIC. E na TVI. E na TVE. E na RAI. E em todos os canais que estivessem a emitir na altura. Um milhão de pessoas assistiram à cerimónia em Londres. Eram 12 populares curiosos e 999 988 jornalistas.
Apesar do incompreensível entusiasmo de milhões de pessoas pelo matrimónio de dois cidadãos ingleses que não conhecem, esta semana acabou por provar uma vez mais que, quando comparada com um casamento, a morte é mais alegre. O falecimento de Bin Laden provocou festejos mais ruidosos, mais efusivos e mais vastos do que o casamento real. Vários líderes mundiais disseram que o mundo respira melhor depois da morte de Bin Laden. Mas o príncipe William já deve ter começado a sentir falta de ar.

Ricardo Araújo Pereira, Um casamento e Um funeral, in Visão
O tempo difundiu-se com o espaço. Não me assola na memoria se foi ontem, hoje ou à algumas horas. O cheiro da comida, a chamada que recebi, a conversa que houve... N altura, não me ocorreu o quão importante foi para mim. Agora, penso nisso e choro por causa da generosidade e da amabilidade que me fizeste.
Hoje, o espaço ergue-se na minha mente. E recordo-me do sorriso que me roubaste

domingo, 15 de maio de 2011

Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar


Sophia de Mello Breyener
"Pai. A tarde dissolve-se sobre a terra, sobre a nossa casa. O céu desfia um sopro quieto nos rostos. Acende-se a lua. Translúcida, adormece um sono cálido nos olhares. Anoitece devagar. Dizia nunca esquecerei, e lembro-me. Anoitecia devagar e, a esta hora, nesta altura do ano, desenrolavas a mangueira com todos os preceitos e, seguindo regras certas, regavas as árvores e as flores do quintal; e tudo isso me ensinavas, tudo isso me explicavas. Anda cá ver, rapaz. E mostravas-me. Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer, em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei ouvir. A tua voz calada para sempre. E, como se adormecesses, vejo-te fechar as pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei."

"Morreste-me" de José Luís Peixoto

segunda-feira, 25 de abril de 2011

sábado, 23 de abril de 2011

O Erro

Havia um velho na rua. E eu olhava o velho
Dantes, carregavas num botão e o mecanismo accionava-se automaticamente. Agora, o botão não reage. Cobardemente, nunca revelaste a localização do botão, e eu também nunca a quis saber. Não o queria desligar, mas também não queria ligar. Olhei de relance para o velho, mas ele parecia adormecido a olhar para o nada. Incessantemente, fugia sem sair do mesmo sitio, cambaleava nas sombras da noite - tudo por causa do Erro - que me fazia esconder a face até da sombra da Lua Nova, que me fazia andar sem olhar em frente. E pensei em apagar o Erro. E cheguei a conseguir escondê-lo. Andava de cabeça erguida, mas não sabia quem andava. (E o velho olhava...) Vagueava ao sol, sem sal, nem sabor, nem cor. E o velho na rua, aproxima-se. E eu fujo para apagar, fujo para não encontrar, fujo para não recordar. E apago, e não encontro, e não me lembro. E descubro que não sou ninguém. E olho para o velho. E o Erro faz-me encontrar o botão. E encontro o passado no meu presente. Mas já não encontro o Erro.


(inspirado na conversa com o amigo A.O., criador da Borracha que apaga o passado)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Podia ter festejado o visitante numero 2000. Ou o centésimo post. Ou Sétimo comentário. Mas não o fiz. Porque as coisas se fazem uma de cada vez, e quando se pode. E ultimamente as coisas chamadas palavras, não têm conseguido sair. Culpa minha, que não as levo a passear para os dedos, e as exponho aqui. Culpa do tempo, Culpa de ninguém. Ou talves, culpa da vida. Que cansa, canta e encanta, nos leva e tráz, envolve e diz "és capaz". Que se esquece de avisar do futuro dos 5 minutos a seguir, e depois, nos faz desistir. Pensa que se interpreta meias palavras, mas com um "meio pé", é sempre dificil caminhar. Nunca é fácil chegar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

sábado, 26 de março de 2011

Abrimos a página. Carregamos na tecla, avançamos. E apagamos. Retrocedemos, fazemos "delete" e apagamos a reciclagem. Partimos qualquer coisa. Mudamos a música de fundo, e descobrimos um novo detalhe. Em vão, paramos um momento, e tentamos interpretar o que quer que seja. Viajamos para outros mundos. Tentamos despragmatizar, mas não há sentido. Arruína-se a história. Em vão, em  vão, apagamos o tempo.              

sexta-feira, 25 de março de 2011

"Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós." (Martha Medeiros)

domingo, 20 de março de 2011

Da-te. Respira fundo. Dá-me a mão. Mostra o coração. Explica. Não sejas meia verdade, um terço de alucinação, uma história a duas dimensões - não sejas! - Canta-me ao ouvido. Usa a magia que existe, a magia que construiste..Não a deixes acabar! Faz render as palavras, usa tudo o que tens! Não me deixes ir. Não me deixes simplesmente ficar... É manipulação, sem uso da razão.
Ensinaste-me a por o dedo na lua - a colocar-me a ver o que se tem de sentir - e eu pus-te no meu coração. Cada dia mais um pedaço. Quando percebi, havia mais do que fatias de um todo - havia o todo - para todo sempre.

domingo, 13 de março de 2011

Lembro-me que esqueci o nome do cão. E do gato. E do piriquito, se o houve. Esqueci-me por tantas vezes o lembrar. De tantas vezes travar a batalha. Esquecer. Lembrar. Doer. Mas não me esqueço das conversas. Das histórias. Das gargalhadas emotivas. Engraçado o corpo humano... Põe debaixo do iceberg o que nunca deixa de estar a tona de àgua, mais ou menos submerso, nas emoções que constrõem a vida.
O nome do cão. Alguma vez me vais lembrar?

sábado, 12 de março de 2011

Enrascados

"Geração à rasca": o tema que abala os Noticiarios, que coloca uns a dizer mal dum grupo musical, outros a elogia-lo, e ainda divide este pais, já por si não muito grande; são conservistas que dizem que se os jovens são a geração à rasca, então deviam ter visto a deles (coitadinhos, sempre coitadinhos), são os mais novos que parecem que levaram com o beijo da Bela Adormecida e andam agora todos a dizer que está mal, mesmo sem saber porque.
Apras-me a mim, reles mortal, pré-geração à rasca, dar de minha justiça, (que não é nenhuma, que é uma simples opinião de jovem que não sabe o que diz, nem o que faz, nem o que custa a vida).
Por acaso não vou a manifestação. Terei de ficar em casa, a providenciar o meu futuro enrascamento. Tenho testes, e culpa da geração que nos culpa, parece que hoje em dia, a meu ver, estou enrascada, e nem tudo passa por estágios. Ora vejam:
- Em Portugal, o governo faz com que os professores se preocupem mais com a auto e hetero avaliação( dos professores e dos seus colegas) do que da verdadeira essencial da escola, ensinar. Uma sugestão enrascada: entre os milhares de professores desempregados, a receber subsídios, porque não organiza-los, de forma a ocupa-los, e a pagar-lhe os subsídios devido a um trabalho (e não à falta dele), neste caso, um trabalho que serviria para avaliar professores.
   Vantagens:
Mais justiça na avaliação
Melhor ambiente nas escolas
Menor numero de desempregados ( e vocês, governantes, não adoram dizer que o desemprego desceu 0,001%?)
Mais capacidade de concentração dos docentes, mais tempo de preparação de tempos lectivos, maior abertura a projectos extra-curriculares, mais tempo para esclarecimento de duvidas a alunos fora do tempo lectivo (sim, porque embora os vossos filhotes andem em colégios particulares, que ás tantas, oferece explicações, à que esclarecer que nas escolas publicas não é assim. Queres explicações? Pagas.)
Melhor relação sócio-afectiva na comunidade escolar
de momento, não me lembro de nenhuma desvantagem... a não ser... ah, sim dá trabalho. Não iriam copiar nenhum país, não iriam simplesmente cortar ordenados, não seria uma coisa fácil para o primeiro ministro, licenciado, dizer em Espanhol, Inglês, ou em qualquer outra língua.
-Em Portugal, temos as "queridas medias" de mãos dadas, na entrada da faculdade. Mas, eu ainda gostava de descobrir, aonde é que nas médias esta a componente "vocação", ou a componente "comunicação", ou a componente "educação". Tão necessárias em tudo, mas mais necessárias numas áreas que noutras. Onde elas estão?! Bem, eu sei onde elas não foram contempladas: na senhora que atende o telefone de forma mal educada quando se liga para o gabinete do x, no doutor que nos ausculta quando vamos ao hospital, e que nem ouve os nossos sintomas, no técnico que manda comprar logo um aparelho novo. Isto não é generalizar. É o que acontece. A quem nunca aconteceu? Talvez seja exepcção à regra. Mas seria mais fácil evitar as mudanças de cursos a meio dos semestres por estas universidades Portuguesas se existisse mais "selecção e direccionamento" na escolha das profissões de cada um.

É verdade. Somos uma geração "à rasca", gerados por uma geração onde imperam os comudistas, que inspirados no 25 de Abril, acharam que mudaram o Mundo, e que já nada era preciso fazer. Esqueceram-se que a mudança é constante, e que é feita de pequenas coisas. Uma musica. Uma manifestação. Uma medida estúpida que ouvida e interpretada pela pessoa certa, até pode ser muito boa. Parece que alguém se voltou a lembrar das pequenas mudanças. Pequenos actos que paço a paço, mudam alguma coisa. Já se percebeu que já não estamos colados à revolução dos cravos, que também pensamos, que queremos mudanças. No convite que tenho no facebook, estão até agora, 62 887 pessoas a "dizer que vão", 46 694, a ponderar ir. Talvez seja altura de colocar a mão na consciência. Afinal, talvez estes "enrascados" tenham algo para dizer.. E que tal, oh senhores ministros, trocarem os carros BMW por fiat, mesmo que sejam novos na mesma, ou as viagens em jactos privados, por voos comerciais, os jantares em restaurantes estrelas michelan por uma coisita mais simples, as dormidas em Hotéis de 5 estrelas pelos de 2, e contratar alguém, mesmo que seja à custa de cunhas, para analisar e seleccionar os papeis que alguém lhe vai fazer chegar, e que serão recolhidos amanha nas manifestações?! E também, porque não, aparar-se das redes sociais, perceber o que nelas é dito? Só não sejam malandro, e não comecem para ai a censurar toda a gente.. Afinal, o 25 de Abril, já "não cá canta, deste 1974"!

domingo, 6 de março de 2011

Cheiro. Vem, e vai, e regressa.
Nunca abandona. Ressuscita, e ergue.
Caminha escondido, aflito. Torna-se presença, que assenta, surindo inventa e recria.
E alguém fugia. Corre depressa, ou corria.
Depois entra a noite fria, que aquece, atencantada por uma cigarra, e embala a presença, e faz fugir alguem.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Brio, frio, vazio

Os ignorantes, pensam que o tempo não regride. Os teimosos também. Quem ficam com assuntos resolvidos, sabem que não. Quem nunca foi livre para decidir, não sabe o que faz, onde está e o que é poder. Consome uma chama visivél a atmosfera, cessa o burburinho de fundo. E fica só. Com um vazio outrora cheio de muito para dar. Busca forças que já foram consumidas por muitas batalhas.. forças que sem alternativa, deram tréguas à guerra. Iça-se um fogoso tremor. É a brisa de fim de tarde, de um já há muito acontecido. Amarra-se aquilo que já não é de ninguém, e que nunca deixou de ser de alguém. Tenta-se esconder mais fundo a chave daquilo que não queremos desterrar. Assusta cada relance de brio. E vem o frio, outrora reconfortado por um abraço, sussurro sossego, afagado pelo som de uma divertida vibração de cordas. Vem o escuro que arrebata tudo. Que envolve tudo. Mas que não nos envolve. Nunca mais!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sinonímia Financeira


É muito raro que dois mercados caiam no mesmo dia, porque os jornalistas de economia não deixam. Quando um mercado cai, o outro derrapa. E, provavelmente para refrear os ânimos especulativos, quase nunca se verifica a existência de mais do que um mercado a subir. Se um sobe, o outro avança


Os problemas relacionados com a dívida soberana trazem, apesar de tudo, algumas vantagens notáveis. A primeira é o facto de a dívida soberana ser, como o próprio nome indica, soberana. É muito reconfortante saber que ainda há alguma coisa soberana em Portugal, mesmo que seja apenas a dívida. Quando toda a nossa política é definida pela União Europeia, dá gosto saber que a dívida se mantém firme na sua teimosa e patriótica soberania. Neste momento, é um dos símbolos da nacionalidade. A bola amarela que vemos no centro da bandeira nacional tem agora um duplo significado: é a esfera armilar e representa também um dos muitos zeros da nossa dívida soberana.
A segunda vantagem é que mesmo leigos em economia e finanças, como eu, dão por si a prestar atenção à informação sobre os mercados, para ir avaliando o estado do nosso endividamento e da nossa economia em geral. Depois de ter estudado profundamente os serviços de informação económica, estou em condições de apresentar uma conclusão preliminar: nos mercados, além da especulação financeira, há especulação lexical. Quando as bolsas têm um dia mau, ficamos a saber que Nova Iorque perdeu, Paris derrapou, Madrid regrediu, Tóquio tombou, Londres caiu e o PSI 20 deslizou. Se os mercados se animam, somos informados de que Nova Iorque subiu, Paris avançou, Madrid cresceu, Tóquio somou, Londres ganhou e o PSI 20 valorizou. É muito raro que dois mercados caiam no mesmo dia, porque os jornalistas de economia não deixam. Quando um mercado cai, o outro derrapa. E, provavelmente para refrear os ânimos especulativos, quase nunca se verifica a existência de mais do que um mercado a subir. Se um sobe, o outro avança. É curioso que uma atividade tão repetitiva como o comércio financeiro tenha um horror tão evidente à repetição.
No entanto, se indiscutivelmente contribui para a elegância dos noticiários financeiros, evitando repetições que poderiam estragar a beleza daquelas listas de índices e percentagens, o recurso aos sinónimos pode ser perigoso, sobretudo num meio em que o rigor é fundamental. Na verdade, perder não é o mesmo que derrapar. Um mercado que tomba não parece poder levantar-se, ao passo que um mercado que cai dá ao investidor a sensação de que pode voltar a erguer-se mais facilmente. Do mesmo modo, e embora os jornalistas pretendam referir-se à mesma coisa, confio mais num mercado que cresce do que num que ganha, na medida em que o primeiro aparenta estar a fazer um esforço sustentado para se tornar maior e mais forte, enquanto o segundo se limitou a um ter um ganho que pode ter sido pontual e até fruto do acaso. Percebe-se melhor o que quero dizer se pensarmos na distância que separa as expressões "O Sporting cresceu" e "O Sporting ganhou". Creio que a ERC deveria recomendar maior cuidado aos jornalistas que nos dão informações sobre o modo como Nova Iorque negociou, Paris especulou, Madrid agiotou, Tóquio endrominou, Londres usurou e o PSI 20 trapaceou.

Quinta feira, 10 de Fev. de 2011 , Ricardo Araújo Pereira, in Visão

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Não posso adiar o amor para outro século

Não posso
Ainda que o grito sufoque na garganta
Ainda que o ódio estale e crepite e arda
Sob montanhas cinzentas
E montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
Que é uma arma de dois gumes
Amor e ódio


Não posso adiar
Ainda que a noite pese séculos sobre as costas
E a aurora indecisa demore
Não posso adiar para outro século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração



A. Ramos Rosa, A Mão de Água e a Mão de Fogo

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Não houve um jantar de despedida. Nem um pré aviso. Mas será que houve isso quando chegaste? Durante muito tempo, achei que sim. Achei que sim, que tinha acontecido um momento de conhecimento. Culpa talvez do vazio que se seguiu. O nada é preenchido de lembranças. Recordações que polvilhadas de imaginação e outros condimentos, têm um resultado mágico, e intenso. Foi ontem. Ou não, talvez já tenha sido à 2 dias. Não sei ao certo. Relembro-me que foi da noite para o dia. Quando pisquei os olhos... era o nada. Nada. Já só havia o rastilho ardido do jantar. Do primeiro tudo. E ao caminhar, e com o vento, até este se desfaz...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cai repentina a noite. Sinistramente, vagueia sozinha a mente, fora de um hospedeiro hostil. Talvez tenha sido um susto, um acto de rebeldia, ou uma inocente corrente de ar, a causa de tal viagem.
Certo é que alguém, cujo nome ou morada a noite desconhece, que deambula pelas ruas de uma cidade imaginária onde fadas e duendes também vivem.
Vejo a mente solidária...fecho os olhos, e lentamente fica também a minha mente a vaguear. Sozinha. Hostil.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Que o o sol influencia o humor, o amor, e faz parte de umas das muitas razões que se tem para sorrir, já eu pensava saber. Mas que o tempo trazia consigo recordações vivas do que aconteceu à anos feitos dias, que entranhado no vento, sem se ver, mas a sentir-se, vem aquele dia, aquela conversa, aquele momento imortal...
A cada passo que ando, vem sorrateira, a recordação. Esconde-se quando olho para traz, evita olhar-me de frente. E sopra o vento, e sopra à memoria... Aflora todas as percepções sensoriais, que passaram a memoria a longo prazo no exacto momento que se captou a emoção.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A noite fria trás sombrias revelações... Gélidas possibilidades assolam a alma, e acordam fantasmas já combatidos. Lágrima a lágrima, constrói-se um forte de emoções.
Marioneta de desejos, padece sobre um poço, prestes a cair, semblante negro, vultuoso de magia e magnitude.
Apaga-se da alma a ideia de finitude que tudo transporta, culpa da felicidade e realização que cada gesto demonstra.
O cansaço assola a alma dos demais, e assola a minha também.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ser bem de longe

Há quem fale que à terceira é de vez... Eu penso que as cabeças duras só entendem à quarta... Uma cabeça dura, ela entendeu à quarta: propositadas e em vão, com ou sem prévia ingenuidade... Na quarta vez, a resposta veio-lhe graças a um ser bem de longe... ( e não, não é Deus..) mas sim o Senhor Berardo, que da Madeira "mandou construir" um mseu no Cuntenente, que em certa altura teve uma Sposiçon, que continha esta obra literária, (daquelas que à primeira pouco têm de literárias, mas que basta ler o titulo para entendermos muitas situações mal explicadas..vá, o grafismo ajuda) com um ainda mais literário titulo, uma sátira no ramo da B.D...
Ah, e isto...é arte comtemporanea , mes snhores!

[ veja ainda uma muito boa notícia, sobre a obra ]

domingo, 16 de janeiro de 2011

16 de Janeiro de 2011

Consulto o calendário do computador para me certificar da data. Respiro fundo, e penso vazio. Tento encher a mente de coisas inteligiveis, mas a tarefa torna-se vã... E respiro fundo de novo. Gero um campo magnético, sem polo norte, sem direcção. Constacto que me salta à mente e a respiração... essa torna-se ofegante. Imagens saltam, arrepios saltam, salta tembém uma certa frívolidade, carapaça de tanto, tal com os escudos de guerra dos nossos antepassados; concentro-me... o meu olhar foca-se num momento fruto da imaginação.
Olho agora o calendário, olho-o concertrada. E percebo o quanto tempo passou...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, livrar-mos logo disso."




Charles Chaplin

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Não tinha de acontecer, mas ficava bem... Uma prova, um sinal do que se passou. Com o tempo, com vento, existem coisas já não tão claras. Será que aconteceram mesmo? Dizer que não seria esquecer quem sou. Esquecer tempo e uma vida, e muitos que gosto.
Não esquecer tudo, lembrar-me fotográficamente de cada instante passado, imaginado, segredado, faz-me querer que sonhos são realidade.

Quase, quase...