quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Condor e magia

Quando a distância se encurta mas ao mesmo tempo aumenta em nós um fosso invisível onde vão parar todos os assuntos - tabu da nossa existência, cerra-se o ar à nossa volta. Vem uma avalanche de "ses" e "porquês" que arrebatam a calmaria em que os pensamentos pareciam divagar, e turbilha a mente e o espírito. Pudesse eu ter o condor de mapear esta tempestade de ideias e ideais e organizaria tudo em gavetas fechadas em cadeados de 7 chaves, cuja abertura mediada por um sem número de testes e provações, aconteceria só aos realmente merecedores de tal feito, e não aqueles que o destino, tão certo como alietório, seleciona para completar tarefas. Pudesse eu ter o condor de mapear esta tempestade, e dormiria agora calmamente no meu leito, sem inquietações de caractér e de oportunidade.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Natal

Passamos os anos a falar sobre a materialização do Natal. Como se o amor, a amizade, a solidariedade viessem embrulhados nos mais bonitos laços, acompanhados dos talões de trocar que escondem os valores mais elevados. Insurgimos-nos contra isso, uma, outra e outra vez. Ás vezes sem percebermos bem que o estamos a fazer, mas vamos na onda do "outro diz que disse".
Nunca recebemos da mesma mão que damos. Mas ás vezes há exceções, e elas sabem tão bem...
Outras vezes, pedimos a presença de alguém, anos a fio, vezes sem conta... E há uma vez, que mesmo num efémero momento que parece durar para sempre, ela acontece.

E quando tudo se conjuga, pela primeira vez, é Natal.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Tropeço

E de tanta vez que tropeçamos um no outro, fica a dúvida se não era o caminho ou se fomos nós que mudamos as encruzilhadas que nos estavam destinadas.
Agora já longe, aparecem as questões a que nunca vamos saber responder. Como teria sido o futuro, agora nosso presente? Onde estaríamos? Quem seríamos?
Vem o café, o fino e a imperial, uma e outra vez. Nasce a conversa como as cerejas no inicio da primavera, a maturar vários assuntos em simultâneo. De quando em vez, é golo e muda-se de assunto, e cai um silêncio onde falam os olhares que brotam as memórias passadas projetadas na vidraça. Vêm à memória números, encontros fugazes, noites frias passadas ao luar, catapultas de conversas que foram pontos de partida para tantos sonhos...
E é golo de novo. Cruza-se o olhar como outrora se cruzou o caminho, fixa-se o vazio á espera que o olhar se desvie para não encontrar no fundo da alma mais Estórias que ficaram esquecidas e perdidas no tempo.
E o tempo petrifica. Percebemos que assim que nos cruzamos, tu a tremer de frio eu com o coração a saltar, que não interessava se os detalhes tinham ficado no passado, porque o essencial continua a ser presente. Tropeçamos um no outro. Seguimos ou ficamos?

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Um século depois

Não redescobri a anatomia das tuas mãos, mas reconheci a essência da tua alma. Os cabelos brancos nas têmporas contam a história da vida, onde em alguns pontos se cruzam deixando aquela marca irrefutável do amor misturado com a dor que tanta vez andam de mãos dadas.
A incompreensível razão das coisas é inexplicável também neste caso. O loop das questões que isso levanta não é relevante. Entender que mesmo um século depois o tempo não levou nada, que deixou o riso fácil, o olhar cortante, os choques elétricos que viajam através da atmosfera, agora regada com um cheiro a cigarro, e encontram o lugar onde se guardaram as emoções e reaviva-as, uma a uma.
A saudade mistura-se com o presente, numa viagem no tempo repleta de inconstantes vai-vem de memórias, ora da felicidade da tua presença, ora do abismo da tua ausência.
Saltitamos entre a vida, especial e banal e as crueldades do destino. As cicatrizes que elas deixaram são atenuadas pela certeza de que nada foi em vão.
A meta nem sempre é chegar e o caminho que fazemos é que dita quem somos.
Haverão sempre impulsos elétricos (e magnéticos?) perdidos num efeito doopler que deixámos na atmosfera e por mais vezes que a terra gire, este efeito não deixará de girar connosco. É a vida no seu estado mais cruel e verdadeiro e as nossas decisões esplanadas em cada passo da nossa vida.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Luz

O frio, que congela entranhas, e que move montanhas, e que muda paisagens, despe ramagens, consola também a perda, cega e desmedida das coisas.
O frio, trás as lembras de dias agora também de outono, e outros de inverno onde se ouviam passarinhos e o sol que teimava em estar.
O frio, que mesmo nos dias mais quentes de verão chega, abraça e leva consigo a luz e a leveza da vida, tão querida, que nos faz questionar.
O frio, que deixa as grandes perdas mais vivas, sempre, sempre presentes.
E por mais que o tempo passe, que venha o frio, nada tira o brio da tua vida, tão querida.
O frio, que ás vezes vem de passagem, outras vezes fica para ficar, despoletado por um sopro da memória de outros tempos que ainda são presente, inunda a alma. E por um momento, mesmo que escasso e vazio pela falta da tua presença, tudo não passa de um pesadelo, e o presente volta a ser o passado antes de ser o futuro, agora presente, sem a tua luz.

Impulsos

Salta-me à memória o dia em que conheci os refegos das tuas mãos, e através delas partilhamos os mesmos impulsos nervosos.
Éramos duas crianças a brincar aos adultos, sem saber que a vida nos ia fazer cair uma e outra e tanta vez.  Não sei se lutamos pouco ou se no fundo não havia nada para lutar. Fizemos o nosso destino uma, outra, e outra vez. Cega-nos hoje as lembranças de um passado que teima em tocar no presente e que o nosso próprio bem deve ficar no passado.
Bem lá atrás, escondido nas memórias felizes e fugazes com que fomos presenteados. Porque o que importa não precisa de ser longo ou duradouro. Existiu, e isso irá alimentar as nossas almas até um dia, noutra vida quem sabe, ficarmos juntos para sempre.

(Not) The Last, and (not) the list

Um século passou desde a última vez que botei prosa aqui.
Perdi passwords, e também perdi o norte, e outros pontos cardeais todos.
Hoje, algo me fez re-visitar este espaço, e o bichinho pela escrita que nunca se perdeu, fez-me insistir até conseguir entrar.
Ressuscitei o "outros lados do olhar". Eu própria ressuscitei muitas vezes ao longo destes quase 7 anos sem escrever aqui. Mudei, adaptei-me, e achei também que não tinha de o fazer.. que se lixe o resto!!
Escrever e fotografar vão-se manter acesos aqui. Espero que com uma frequência que me permita não me esquecer deste cantinho.
A quem vem pela primeira vez, e aos que vêm mas já não se lembram... este é um blog sobre coisa nenhuma, mas inspirado nas coisas todas...da vida.
Sejam re-benvindos!