segunda-feira, 30 de agosto de 2010

incoerencias

Doí a cabeça. Cambaleia a avenida. Caminha desengonçada uma existência premeditada sem aviso.
Um dorme-acorda de desejos. Sonhos que se cruzam com a dormência dos sentidos acordam planos outrora abandonados.
E ele acorda. Não sabe onde esta. Tenta falar, mas só consegue saborear o sal do ar, a maresia da manhã. Rasteja pelo chão de areia fina, branca, e quando finalmente consegue ver, percebe que não há sol. O local é fechado, e só-lhe ocorre sair dali. E depois pensa: e o que há lá fora? e como serei eu la fora? e se não gostar, não quiser, e preferir estar aqui?
E fica a pensar. Pensa, pensa e um dia leva a mão à cara. Percebe então que tem barba, espessa, comprida e quando olha mais aprofundadamente, farrapos brancos preenchem o que já foi preto, mas que ele não viu.
Grisalho, corcunda, e desorientado, ele tenta levantar-se da posição fetal em que quase sempre se encontrava, a que tão bem se tinha habituado, e cambaleia em direcção à porta. Não a abre. Eleva a mão direita, e pela primeira vez dá conta do quanto velha ela está. Detêm-se um minuto. Tenta fazer o filme do que tinha sido os últimos anos, mas percebe que não tem nada.
Abre a porta. Levemente ao início, e depois com um grande empurrão. O sol cega-o monomentâneamente. E mesmo sem ver, ele percebeu o que perdera nos últimos tempos. E ganhou vida.

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