quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Um século depois

Não redescobri a anatomia das tuas mãos, mas reconheci a essência da tua alma. Os cabelos brancos nas têmporas contam a história da vida, onde em alguns pontos se cruzam deixando aquela marca irrefutável do amor misturado com a dor que tanta vez andam de mãos dadas.
A incompreensível razão das coisas é inexplicável também neste caso. O loop das questões que isso levanta não é relevante. Entender que mesmo um século depois o tempo não levou nada, que deixou o riso fácil, o olhar cortante, os choques elétricos que viajam através da atmosfera, agora regada com um cheiro a cigarro, e encontram o lugar onde se guardaram as emoções e reaviva-as, uma a uma.
A saudade mistura-se com o presente, numa viagem no tempo repleta de inconstantes vai-vem de memórias, ora da felicidade da tua presença, ora do abismo da tua ausência.
Saltitamos entre a vida, especial e banal e as crueldades do destino. As cicatrizes que elas deixaram são atenuadas pela certeza de que nada foi em vão.
A meta nem sempre é chegar e o caminho que fazemos é que dita quem somos.
Haverão sempre impulsos elétricos (e magnéticos?) perdidos num efeito doopler que deixámos na atmosfera e por mais vezes que a terra gire, este efeito não deixará de girar connosco. É a vida no seu estado mais cruel e verdadeiro e as nossas decisões esplanadas em cada passo da nossa vida.

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