segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Não estar

Não estavas lá quando chorei por causa daquilo, nem quando precisava de alguém para me limpar as lágrimas, dar a mão, ou simplesmente estar. Também não te vi, nem te falei, nem te ouvi reconfortantemente quando naquela sexta feira fiquei feliz. Porque fiquei mesmo! Queria partilhar com alguém, e ninguém estava lá. Era pior que falar para um espelho, porque nem um reflexo havia. E no meio de uma multidão, sentia-me sozinha. Não me sentia eu. E ouve um dia, em que fiquei sem chão, culpa duma situação, aquela... e nessa altura, já ás escuras, sem chão, sem pára-quedas, andei á deriva, e sozinha comigo mesma, sozinha, já sem mim, vazia, e sem lágrimas, e porque ninguém me limpou a face, andava também já, nadar nelas. Precisei de uma presença. De uma voz. E quando esperava ouvir a tua, não estava lá, nem o meu eco. Até isso tu levaste. Sem pedir, sem deixar alguma coisa em troca.
Lutei. Já não lutava por ti, porque já nada já nada havia para lutar. Lutei por mim, para que ressuscitasse cada pedaço que a falta de palavras, que a falta de gestos, que a falta da voz, da presença, matou.
Lentamente, sem tu estares de maneira nenhuma, lentamente, comigo mesma, com a força que fui colando o meu eu, pedaço a pedaço...
Isto nunca foi uma batalha, nem uma Guerra. Lentamente, reciclei cada pedaço do que se tinha apagado. E aos poucos, regressei. Voltei àquela Terra, ao calor daquela gente, ao reconforto daquele lar. Agora já distante no tempo, vou percebendo que não fui eu que me destrui, mas o que eu deixei que acontecesse que me destruiu. Agora, percebo que não fui eu que me reciclei, mas sim o teu silêncio, e a minha força escondida. Agora, a Terra que é minha, é também a Terra que deixa saudades. Agora, sou presente. Agora, sou feliz. Agora, aprendi a chorar sozinha... 

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