Levanto-me lentamente. Equilibro sobre as pernas o peso de anos afim. Ajusto o peso do corpo, pesado não pela sua massa, mas pela força gravítica dos pensamentos que perduram na minha mente. Ensaio os paços até à janela, e depois de lá recuo e avanço em pensamentos, na exata sincronização com que aperto as sapatilhas.
Agarro uma ponta do atacador. Sinto o cheiro a mar...
...Agarro e faço um laço. Sinto o teu abraço.
Faço o mesmo com o outro. A minha cara encosta na tua.
Junto ponta com ponta. Começo a sentir-me tonta.
Cruzo os atacadores, vem tudo num arrepio. Aquele dia... e depois o vazio.
Fico com frio. Volto ainda mais pesada para o sofá. Surripei uma manta algures entre o corredor e a porta da sala. Deixo-os em todo lado, para quando frio chega me aconchegar e afastar o peso da solidão. É esse o pior de todos os pesos que os meus pés, enrugados, com joanetes, esporões e calos acarretam. Agarro outra manta para me tapar. Ouço a rua em eco na sala, e o pensamento em eco na casa, e o meu coração em eco na boca.
Decido deitar-me. Desaperto as sapatilhas.
Agarro uma ponta do atacador. Sinto o cheiro a mar...
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