quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"Escuta a minha voz"

"Porque é que ninguém nos sugere os locais onde temos de ter mais cuidado: aqui, o gelo é mais fino, além, é mais espesso, será de continuar, fazer um desvio, recuar, parar, evitar? Porque temos sempre de levar connosco o peso dos gestos não feitos, das frases não ditas, daquele beijo que não dei, daquela solidão que não abracei? Porque será que vivemos imersos nesta extraodinária estupidez, desde que nascemos? Tudo nos parece eterno e a nossa vontade reina obstinada sobre o minúsculo e confuso Estado que se chama eu, prestamos-lhe homenagem como se fosse um grande soberano. Bastaria abrir os olhos por um segundo para perceber que não passa de um príncipe de opereta, volúvel, afectado, incapaz de bominar e de se dominar, incapaz de ver o mundo para além das suas próprias fronteiras, que mais não são do que os bastidores - variáveis e acanhados - de um palco."

Susana Tamaro, "Escuta a minha voz"

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