Tenho uma garrafa de vinho e dois copos. Só um deles tem vinho. Tenho uma longa história para contar. Só uma versão dessa história. Tenho um amor que não cabe no peito, mas só um corpo, quando era suposto haver dois para ela ser real.
Tenho uma história, como toda a gente. Ela não tem um final feliz, embora tenha momentos de êxtase de felicidade que não cabem no universo. A história é banal, fugaz, cliché até. Não sei se não tenho palavras para a contar, ou se ainda não as inventaram. Nem se me é permitido, na minha humilde condição humana de quem bebe uma garrafa de vinho sozinha, com dois copos, a proferir em voz alta.
Falta-me a outra parte. Procurei-a incessantemente por entre becos e ruelas, por entre espaços inimagináveis na condição humana mais reles. Procurei clarividência, e achei que a tinha encontrado porque vinha junto com razão. E a razão vence tudo. Ou deveria vencer.
Estou, na minha condição mortal cada vez mais presente à medida que os anos avançam, à espera de respostas que cada vez me parecem mais sobrenaturais ás coisas pelas quais tenho dúvidas. Divago sob a incerteza do futuro sem rumo, nem fumo, seja ele branco ou não, de respostas perdidas no tempo e lançadas ao vento.
Deito a cabeça a cada esquina à tua procura. Onde estás? Quem és afinal? Cruza-se a linha do real e imaginário, reduzida a sonhos, ora a dormir ora acordada, de uma realidade que poderia ser paralela a este mundo ridículo, mas que acaba sendo um sonho-pesadelo imaginado na sua concepção, mas real em todas as suas sensações e sentimentos.
Como viver assim? Esperar por uma substituição, qual jogo em que o árbitro apita e surge alguém, à partida mais capaz de cumprir a função de me fazer amar de forma inteira, de me completar, de me dar um chão e uma mão? Ou esperar de forma feérica, mas por vezes real, que tudo mude, fique como dantes. Que voltes capaz de me arrancar o chão, de me dar a mão e o colo, e o abraço e o beijo que voltam a alinhar o norte e os outros pontos cardeais?
Não sei a quem pertence o futuro. Sei, porque já não me anulo a esse ponto, que mereço um. Que quero um. Porque alguém sem colo não é alguém. Porque para ser não basta estar.
Queria respostas. A mesa posta ao abrir a porta daquela que é agora a minha casa e ouvir o ecoar da tua voz, murmurando o meu nome sem dificuldade. Queria depois a segurança de um abraço que me faria poderia tudo. Ser tudo. Ter tudo.
Mas não tenho.
O que faço agora?